terça-feira, 31 de março de 2009

ainda fui a tempo

Procuro encarecidamente o primeiro desenho que fiz, não pelo seu carácter de raridade. Possuir esse desenho, dar-me-ia uma autenticidade que justificaria a minha actual presença. Afinal o primeiro desenho é a nossa primeira consequência.

umas palavras na rádio.

ouvir entrevista na antena 2, programa molduras.

segunda-feira, 30 de março de 2009

no meu tempo era assim



tinta da china e aguarela s/papel; 2008



a maçã, já não sabe a pecado

Acredito nos primeiros dias do inverno, pelo que me podem revelar enquanto minuciosos sussurros de passagem. Poder despir estátuas gregas é estar à altura de um mistério pecaminoso. Deixei medos esquecidos num quarto de hotel quando me ausentei. Coloquei anúncio e nunca mais os descobri.

quinta-feira, 26 de março de 2009

ainda fui lá ter... não apareceu ninguém

Enquanto caminho desafio os limites do que tenho em lista de espera, umas vezes porque a ignoro, outras porque a gostaria de limpar. Não somo consequências, procuro fazer delas epopeias que me permitam uma certa consolidação da minha inquietação. Dobro a folha, guardo-a, pura e simplesmente nada registo, para que o sentido do vazio se torne intemporal.

terça-feira, 24 de março de 2009


tinta da china e guache s/papel; 2008

Merecíamos uns postais de silhuetas

Todas as tardes desvio o olhar, no intuito de procurar formas para modificar a única hora que antecede a noite. Medir com precisão o tempo é alimentar leviandades. Fui banhar-me num rio, que ainda hoje devolve nostalgia, tem umas águas tão frias quanto as minhas verdades.

segunda-feira, 23 de março de 2009

viajo em barcos de papel vegetal

Ainda me será permitido subir às montanhas mais altas. Despir o medo em camadas muito finas e deixar que estas sigam a força do vento. As almofadas que deixamos para trás, levaram consigo os nossos sonos profundos. Seria tão sério resgatar cada uma delas e devolver-lhes uma identidade, ainda que provisória. Pretendo devolver-me à origem, prostrado na tarde de primavera.

sábado, 21 de março de 2009

a timidez das flores, pertence-nos

As sombras que se formam da primeira luz da manhã, pertencem aos sonhos tidos na noite antecedente. Mostram-se suaves no desenho das formas.
Não vi mais de três vezes o verdadeiro branco e nunca me chegou por sonho. Na infância não foi possível revelar segredos e agora já não me parece oportuno, tenho-os todos comigo, embora mal arrumados.

quarta-feira, 11 de março de 2009

eu desenho enquanto desenho


óleo e tinta da china s/papel; 2009; 70x100 cm


óleo e tinta da china s/papel; 2009; 70x100 cm


Se duvidarem da linha desconfiem da forma. O espaço está na nossa mente, antes mesmo de estar no papel.

terça-feira, 10 de março de 2009

desenho por vontade própria


óleo e tinta da china s/papel; 2009; 70x100 cm

o desenho é uma presença tão pura do gesto, que dá existência a uma forma de pensamento.

sexta-feira, 6 de março de 2009

por desvios que se dão ao cimo de mim

A único mergulho seguro acontece nos espelhos de água. Não ter assegurada a profundidade auxilia a adrenalina. Porque pensar em desvios de maturidade associados a respostas concretas. Ter os bolsos de veludo permite guardar formas delicadas. Considero atribuir títulos aos únicos gestos que herdei.

quarta-feira, 4 de março de 2009

parece-me cedo para vos escutar

A palavra que se abstém de me auxiliar, está recolhida na memória. Não me surpreendo com exemplos naturais, ficando à mercê do fenómeno. Ainda deixei crescer o devaneio por tempo incerto. Mas não consegui dormir em primeira mão, o sono dava-me conselhos adulterados e media-me a postura. Actualmente revelo os sonhos em papel mate com textura.

terça-feira, 3 de março de 2009

as primeiras horas da manhã não são minhas

As gotas de orvalho principiam as mais puras das simplicidades matinais. Sugerem-nos sussurros de voz doce, mesmo que para revelarem demónios.
O pecado original foi-me oferecido em estado puro. Não dei conhecimento ao meu íntimo para não me deixar influenciar. Senti aquela brisa e até hoje não fiz mais nada.

segunda-feira, 2 de março de 2009

nas próximas manhãs sou infinito

Chegou a hora de pedir uma forma de sonhar em partes iguais. Respeitando a organização da sensibilidade e não adjudicando nenhuma das propostas indecentes que são pretendidas em cada um dos sonhos. O que me deixa entusiasmado, são as manhãs que não vejo.

domingo, 1 de março de 2009

materializar o presente

De cada vez que viajo, procuro assistir ao intervalo de tempo que me separa do ponto de origem. Assim, acredito na viagem mesmo antes de a entender enquanto deslocação física. Por estes dias, propus-me viajar ao primeiro estado de ansiedade ocorrido na minha infância. Ainda não me foi facultado o visto, dado existirem poucas horas disponíveis para estas viagens.