sexta-feira, 27 de abril de 2007

folhas de um caderno







talvez uma vontade ajude a outra...

domingo, 22 de abril de 2007

Eduardo Batarda, prémio EDP 2007


Eduardo Batarda
"Hispania Romana II"(1997) - acrílico sobre tela, 200x160 cm


Manifesto aqui o meu agrado por este prémio, para um dos mais singulares artistas portugueses. Um merecido reconhecimento de uma obra coesa e muito individual.
Felicito a EDP por estes prémios que têm permitido revelar autores e percursos muito distantes das massas comuns.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Deixo aqui os textos do catálogo da minha exposição "possibilidades" no Palácio Galveias -Lisboa, escritos pelos Críticos, João Lima Pinharanda e Román Padin Otero.


Paradoxos da pintura, da fotografia e do comércio de arte
João Lima Pinharanda

Consideremos a pintura no seu valor comercial; a pintura como mercadoria.
Não uma mercadoria como outra qualquer; antes uma falsa mercadoria. Falsa, no sentido de não ser objectivamente determinável a relação entre o capital investido, o tipo e o tempo de trabalho dispendido ou as matérias primas utilizadas para a sua concretização e o valor final que lhe é atribuído. Mas falsa também na medida em que, sendo uma imagem, o que mostra (seja um conjunto de manchas abstractas seja uma cena figurativa) não existe, de facto, fora de si mesmo.

O artista pretende, por dois meios, superar a essência dessa falsificação: ao representar (em imagem fotográfica) as imagens das suas pinturas, António Gonçalves torna a pintura real, descartando a sua falsidade originária para o campo do registo da fotografia; ao criar, nesse contínuo fotográfico, uma narração consistente em torno do comércio dessas mesmas pinturas, garante-lhes a realidade inerente a toda a mercadoria. Porém, se toda a narração é ficção e toda a pintura uma falsa mercadoria, regressámos ao ponto de partida destas reflexões – e deste círculo não sairemos.

O que resta portanto? Entender esta etapa de trabalho de António Gonçalves como um ensaio crítico e auto-crítico potenciado pela dupla apresentação proposta.
A mercadoria (a pintura), ao ser reproduzida (por meio da fotografia), parece mais real nessa representação de segundo grau que na sua materialidade objectual de primeiro grau.
A narrativa (fotográfica) ao ficcionar uma operação de mercado (da arte), usa padrões de representação que tanto nos podem conduzir ao entendimento de uma operação de secretismo e duvidosa legalidade (os cenários desertos e nocturnos, os automóveis de alta cilindrada, os fatos negros, o ar vigoroso dos protagonistas) como para o campo de uma produção de moda masculina de inspiração policial – leituras, ambas, de forte sentido crítico e irónico, até porque falta verosimilhança a qualquer das possibilidades.

A autonomia da pintura e a delicadeza do seu trabalho material (cromatismos pastel, velaturas, fragilidade de desenho) são negadas pela frieza documental da sua reprodução fotográfica; a autonomia da fotografia e a sua capacidade de criar realidades que lhe sejam exteriores são negadas pela função narrativa (ilustrativa de uma reflexão sobre a arte, as suas condições de produção e de troca) assumida neste conjunto.

Nas pinturas, a aparente simplicidade de meios, a desconcertante inocência cromática, a evidente dominante gráfica escondem um excesso de cuidados plásticos, procedimentos técnicos e materiais que o leve humor, que parece constituir o fulcro temático das pinturas, também simula tornar inúteis.
Nas fotografias, a aparente coerência das cenas e a sua seriedade é, afinal, desmontada.
O secretismo do tema policial é trocado por um inesgotável exibicionismo (inerente a toda a operação artística). Ao evocar a realidade possível de uma feira de rua onde a mercadoria é exposta, António Gonçalves aproxima-nos das estratégias de uma produção de moda para a qual o seu conjunto de pinturas tivesse servido de adereço decorativo. Dificilmente encontraríamos uma maneira mais crítica e cruel, mais violenta e desconcertante de um artista se expôr e expôr as fragilidades éticas e estéticas da arte contemporânea.
Lisboa, 1 de abril ’07




antónio gonçalves silent conversation pieces
Román Padín Otero
(tradução: Perfecto Cuadrado)


Quando olhamos para as fotografias de António Gonçalves sentimos uma grande curiosidade. Desconhecemos a causa pela qual os senhores vestidos de preto estão presentes nas suas fotografias. Desconhecemos a causa pela qual os quadros pintados por um artista que acaba por ser o próprio Gonçalves, estão no centro de um grupo de homens na rua junto de carros luxuosos. Desconhecemos, enfim, para onde se dirige a acção, qual o desfecho desse conjunto de gestos e de símbolos.
A origem, nó e desfecho das silentes peças de conversa que apresentam estas fotografias nos são desconhecidos. As suas composições causam inquietude.
Os seus retratos de grupo geram dúvidas sobre o que é que estamos a ver.
O mesmo acontece na vida contemporânea na cidade, onde nada é o que parece. O mesmo acontecia nas obras criadas por três mestres do passado que servem de espelho onde reflectir os matizes das invenções de António Gonçalves.
Ficarmos admirados por uma visão efémera na cidade foi o tema sublimemente tratado por Baudelaire. Quando o seu flâneur se apaixona duma criatura que a massa urbana lhe aproxima, e da que desfruta uns segundos para lhe ser depois arrancada pela mesma marabunta que lha ofereceu, está a ser arrebatado por uma dessas visões efémeras urbanas. O poema “A uma que passa” assim o recolhe.
Os indíviduos vestidos de preto em sentimento colectivo de moda efémera protagonizam o ensaio do Paris do Segundo Império de Walter Benjamin. No “Livro das passagens” reflexiona o autor sobre a vida nas passagens aquecidas e iluminadas que servem de lar a centenas de passeantes maravilhados com a vida urbana. É na vida da rua onde a beleza mercantilizada enche montras e imaginações de coleccionador ou comprador.
Nas fotografias de Gonçalves, um flâneur encontra uma massa de homens vestidos de preto a gerir uma beleza mercantil. Na rua junto de um carro parecem comprar e vender obras de arte. Ou não é isso o que acontece?
No quadro de Goya “A família do Infante D. Luis” um grupo de cavaleiros vestidos de tons escuros envolvem em pé um conjunto familiar que está sentado em volta de uma mesa. Parece uma cena de conversa setecentista simples e palaciana.
D. Luis joga cartas, a sua esposa está a ser penteada e a atmosfera escura do quadro dá conforto à acção. Mas, não será tristeza o que representa o betume do fundo da tela? Não se trata duma cena estática doméstica o que observamos, mas antes a fugida para o desterro social do irmão de Carlos III, quem por se ter casado com uma plebeia é afastado do âmbito cortesão.
Nas fotografias de Gonçalves essas personagens roubam quadros? Fazem apologia ilustrada das ciências e da arte centrando a sua atenção em pequenas telas desordenadas entre si na rua? Estão a embargar a um coleccionador que depois da falência deve pagar aos seus credores com os seus amores da câmara das maravilhas?
Como em Goya, a cor betume do fundo convida ao equívoco.
A mistura de realidade e fantasia aparece representada de maneira insuperável em alguns quadros de Velázquez. O pintor espanhol, na sua obra “Cristo na casa de Marta”, apresenta em primeiro plano duas mulheres em trabalhos domésticos, uma delas com gestos de aborrecimento ou spleen. No fundo da tela, dentro do ângulo superior direito, reproduz-se como quadro dentro do quadro, uma cena em que Cristo aponta com o dedo para Maria na presença duma anciã. É esta percepção estereofónica, uma posição visionária ou uma realização barroca da imaginação e da visão real? Mistura-se na narração pictórica a personagem dramática de Marta na realidade da cozinha e a personagem dramática de Maria na presença de Cristo na ficção da sala.
Nas fotografias de Gonçalves parece como se houvesse alguma coisa apreendida da mímese de realidade e de ficção barroca. Não só joga equivocamente com a vanitas do tempo num nó argumental que parece estático, mas também mistura realidade e ficção e coloca o quadro dentro do quadro. As personagens de preto são ficções antropomorfas duma escola de gladiadores ou de administradores de empresas. Não existem, só aparece deles a sua irrealidade como manequins Dior desenhados por Hedi Slimane. O homoerotismo das suas atitudes despectivas justapõe-se como água e azeite à realidade dos quadros do próprio Gonçalves servindo de suporte ao diálogo mudo da acção.
Mas como em Velázquez, o quadro dentro do quadro titula a criação e esses jovens como os de “american psico”, pegam na sua serra eléctrica e talham ou vendem ou roubam ou compram ou lançam…A ARTE.
No quadro de Caravaggio “Os músicos”, um grupo de quatro jovens reúne-se em volta da arte. Neste caso junta-os Santa Cecilia e a música. Mas o gesto do mais novo é despreocupado e entretido com umas frutas. O tocador das cordas não canta nem toca, só parece extasiar-se perante o que sai do quadro em frente dele. O terceiro é um retrato transposto do próprio Caravaggio e parece perdido nos seus pensamentos. Enfim, o quarto e último, de costas, abandona a sua corda e adormece sobre uma partitura. Estamos num quadro de desfecho. Acabaram o concerto? Estão a descansar, em pose, pensando em começar a música, esperando um castigo por ser maus rapazes ou ouvindo a repreensão que o mestre impõe a outro que chega com atraso? Ou ainda, talvez não sejam músicos, mas sim rapazes da Piazza Colonna chamados por Merisi para fingir uma cena. Todavia a lei, os costumes e os princípios gerais da arte quiseram que nós os vissemos como I musici.
As cenas de rua, carros, quadros de Gonçalves também não têm desfecho, esperam inertes num loop sem final. E aonde vão esses tipos com esse gesto e essas obras? Vão a alguma parte? Ou só fingem interessar-se pela imaterialidade da arte, quando realmente só estão consternados pelo cobro do seu cheque pela pose de modelos.
Estamos ante uma retórica representação muda da difícil realidade da mercantilização da beleza. Nestas fotografias concentra-se todo o equívoco de significantes e significados desde o Barroco, passado já pelo Iluminismo, pela poesia romântica, a filosofia do século XX e a contemporaneidade portuguesa. Pode ouvir-me Major Tom? (Bowie, Space Oditiy).

um quanto perdido

se o tempo permitir talvez venha a visitar o mar, mesmo que o pai não deixe.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Primeiro post no blog..





Inaugurei a 12 de abril a minha exposição no Palácio Galveias
Agora dou início ao meu blog.

Para ver os trabalhos expostos visitem a minha página pessoal.